Será mesmo? Governo Federal briga contra a tomada de três pinos..

No meio dessa crise histórica, acredite, Bolsonaro cobrou — e a equipe de Paulo Guedes corre para liberar — o
texto da medida que acabará com a tomada de três pinos no país.

A mudança do padrão da tomada já está sendo elaborada no âmbito da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade – com a chancela do Inmetro.

O Governo Federal estaria revendo a possibilidade de eliminar o padrão brasileiro de tomadas com três pinos, implementado oficialmente em 2011. Com apenas nove anos da mudança que gerou gastos, polêmica e trouxe mais segurança para instalações elétricas no país, existe a possibilidade de termos que passar por tudo isso de novo.

O governo Bolsonaro já havia sinalizado informalmente uma vontade de reverter a criação do padrão de 2011, mas especialistas apontam que uma ação como essa seria um retrocesso em termos de segurança.

Em entrevista ao Jornal da USP, Josemir Coelho Santos, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da USP, explicou a necessidade de uma padronização nacional obrigatória como o que temos atualmente.

“Foi custoso e penoso implantar essa modificação”

“O Brasil não tinha uma legislação específica que desse essa proteção para os usuários de equipamentos elétricos, e isso foi feito depois de muitas décadas de necessidade. Foi custoso e penoso implantar essa modificação. Até hoje ainda há instalações em prédios antigos que não se adaptaram, e mexer com esse padrão — que é mais seguro e compatível com normas internacionais — parece ser algo que não vai contribuir com a segurança”, explicou Santos.

É importante destacar que não existe um padrão internacional de tomadas, e cada país é livre para adotar seus próprios padrões. O Brasileiro, inclusive, é relativamente flexível, sendo retrocompatível com tomadas europeias de dois pinos e também com um legado de aparelhos antigos que já existiam antes da mudança.

Inmetro e Conmetro

O Inmetro defende que o padrão atual brasileiro garante mais segurança aos usuários, sendo que o terceiro pino funciona como aterramento, especialmente importante para eletrodomésticos mais vulneráveis, como geladeiras, máquinas de lavar e produtos em geral que usam eletricidade para fins de aquecimento ou refrigeração.

Caso o governo siga em frente com seus planos de “despadronizar” novamente as tomadas brasileiras, seria necessária uma aprovação do Conmetro (Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). De qualquer forma, ainda não está clara qual seria uma possível proposta do governo para reverter o padrão adotado em 2011.

A Associação Brasileira da Indústria Elétrica Eletrônica (Abinee) afirma que a campanha movida pelo governo do presidente Jair Bolsonaro contra a tomada de três pinos é um retrocesso. Em nota, a entidade alerta para os riscos de segurança decorrentes de uma eventual mudança na legislação que estabelece o terceiro pino (“fio terra”) nas tomadas e plugues, em discussão pelo governo federal.

De acordo com a entidade, o retorno à situação anterior representa um retrocesso na prevenção de acidentes. Além disso, a mudança já foi assimilada pelo consumidor e uma alteração agora traria ônus à população.

A entidade afirma ainda que a mudança trouxe efeitos positivos. Entre 2000 e 2010, antes da adoção do padrão, a média anual de acidentes fatais provocados por choques elétricos era de 1,5 mil ocorrências. Hoje (números de 2018), a média é de 600 ocorrências anuais, uma queda de 150%.

Padrão adotado impede choque elétrico

O terceiro pino nas tomadas e nos plugues tem uma razão de ser, justificada tecnicamente, pela necessidade que alguns aparelhos têm de conexões de aterramento (o chamado “fio terra”). É o caso de refrigeradores, fogões, ferros de passar roupa, fornos de micro-ondas, etc.

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